Por que esse frame é tão aterrorizante?

Caio Vinicius
3 min readNov 8, 2023

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O filme de terror que mudou tudo.

Halloween (1978)

Eu amo falar sobre John Carpenter. Seja por sua mão divina que quando pega para fazer um filme, não faz algo menos que bom, quando simplesmente não faz um clássico. They Live, The Thing, Halloween e até filmes menores mas ainda assim assustadores, críveis e angustiantes como Someone’s Watching Me!, são ótimos exemplos de obras que tornaram Carpenter o mestre do terror que estabeleceu coisas que foram imitadas durante as décadas seguintes. Antes de Halloween, existiam alguns filmes que poderiam ser enquadrados como Slasher como por exemplo Black Christmas ou Texas Chainsaw Massacre, mas um diferencial em Halloween sempre foi o mal encarnado que Michael Myers representa. John Carpenter leva o horror aos subúrbios. Com uma atmosfera “lenta” que constrói uma tensão gradual, bem estilo Hitchcock, com um possível assassino que está a solta e que nós, o espectador, facilmente poderíamos trombar com ele na rua. Esse era o diferencial de Myers em 1978, ser algo crível. Um homem que nós poderíamos cruzar do nada ao passar uma esquina. Os filmes de terror nos anos anteriores, não retratavam o medo da classe média branca norte americana do jeito que Halloween retrata. Acompanhamos Laurie andando pelas ruas de seu bairro, sendo seguida por um carro, vemos ela se sentir vigiada, até tudo virar uma enorme paranoia e um pesadelo que parece que não teria fim. Halloween leva esse horror que antes estaria em basicamente filmes góticos, ficção científica, em ambientes rurais ou urbanos, mas nunca em subúrbios. O horror sem rosto em Myers bate na porta desses bairros de classe média norte americana que teoricamente seriam seguros, e vem trazendo uma mensagem de que qualquer um poderia ser o próximo. O pesadelo as vezes mora ao lado, e ele não é homogêneo. Não existe uniformidade. De repente, os subúrbios tornaram-se o playground de inúmeros assassinos no cinema e um refúgio potencial para perigos malignos e violentos. Halloween tem um charme prático e uma violência verossímil que faz tremer na base qualquer pessoa que tiver contato com a obra do diretor. Carpenter ama o voyeurismo. Seja por ele estar presente tanto em Halloween quanto em Someone’s Watching Me!, ou pelo seu primeiro projeto ainda quando era um estudante de cinema ser um curta metragem chamado Captain Voyeur, que tem semelhanças com Halloween. Michael Myers representa o mal que bate na sua porta, a paranoia de ser observado, o monstro sem face de uma realidade cotidiana que estamos imersos todos os dias. O frame de Myers olhando para a câmera, estático, com metade do corpo a mostra e de uma distância considerável, mostra algo que devemos forçar o olho para ver. Esse monstro se mistura nas casas e na natureza do subúrbio. Mas quando acabarmos de cerrar os olhos para ver oque está por vir, talvez seja tarde demais.

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